quarta-feira, 17 de novembro de 2010

É preciso deixar essa coisa boba de moral para pensar na vida

Uma amiga me enviou esta bela entrevista do grande escritor Ignácio de Loyola Brandão que foi publicada no jornal "O Estado de S. Paulo":

É preciso deixar essa coisa boba de moral para pensar na vida

Ignácio de Loyola Brandão, escritor

O Estado de S.Paulo

Autor do conto Obscenidades para uma Dona de Casa, o escritor Ignácio de Loyola Brandão defende o uso da obra na escola.

O que você pensa da reação de alguns pais e professores em relação ao seu conto ser trabalhado na escola?
Eu, com 12 anos, lia Jorge Amado. Meu pai era católico, apostólico, romano. Li tudo com a maior liberdade, conversava com o meu pai, e ele me explicava as coisas. E aquilo que eu lia deixava de ser erotismo ou pornografia para ser vida.

Então pode cumprir um papel educativo na sala de aula?
Tem um caráter educativo. Agora, o pai e a mãe têm que ser abertos para a discussão das coisas. Pai, o que é isso? Mãe, o que é isso? Você tem de deixar de lado essa coisa boba de moral para pensar em termos de vida.

No que te ajudou?
Ajudou na minha formação, para eu entender o que é vida, o que é o amor, o que é o sexo, a honestidade, a sinceridade, o que é a verdade. Me fez ver que a vida tem vários aspectos e você não pode proibir porque mais cedo ou mais tarde as pessoas vão descobrir. Não se pode fazer do sexo uma coisa monstruosa e pecaminosa porque aí você pode conduzir para desvios da personalidade.

Você chamaria de conto pornográfico?
Não, não. É um conto inclusive bem humorado, que fala da solidão feminina, da sensualidade. Ele é muito engraçado e foi adotado em várias escolas. Já houve essa atitude em algumas escolas, cartas isoladas de alguns pais. Pouquíssimas escolas tiveram a atitude de condenação, de proibição, de repressão. Acho maravilhoso ter sido adotado (pela rede estadual de São Paulo).

Para você não há objeção em usar o conto na sala de aula?
Não vejo nenhuma objeção em relação a isso. Cabe à consciência e à formação do professor. Se ele também é obtuso, não vai rever nada. Se ele é um professor aberto, tudo bem. Ele que converse com os alunos sobre o que é vida. Esses meninos estão lendo o caso Bruno, vendo um ídolo deles, jogador de futebol, fazendo orgias com as moças e mandando matar. Isso é que é pornografia e não a história da solidão de uma mulher que procura na sensualidade uma maneira de libertação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário